quarta-feira, 25 de março de 2009

Números e fatos: apologia à dúvida

A vida me deu mais dúvidas do que certezas e, quando vejo alguém amparado em tanta certeza ao falar alguma coisa, eu sinto até, por que não, uma ponta de inveja. Certeza de quem fez o universo, certeza de que um problema complexo pode ter soluções simples, certeza de que alguém é incapaz de fazer algo, certeza de que amanhã vai ser outro dia... e eu vou estar lá. Tem certeza? Eu tive um amigo que dizia que só os tolos têm certeza e disso ele tinha certeza.. nunca mais me esqueci desse jogo de idéias que ele fazia. Acho que ele está certo, mas só acho. Não sei se tenho certeza disso.
Pois sim. Cresci em uma geração que aprendeu a associar a violência ao meio e através disso tentou-se justificar toda barbárie em nome de uma sociedade que fez o bandido ser o que ele é. Há a inversão dos papéis e o indivíduo que toma um tiro na cabeça em um sinal é o culpado disso, pois não deu oportunidade ao pivete que empunhava a arma. O moleque sem oportunidades só fez isso porque não lhe ofereceram outro caminho na vida que lhe deram. Na favelas não há opção de vida melhor.
O fato é que uma favela como a Rocinha possui aproximadamente 200 mil pessoas e, segundo estimativas, 22% vivendo em situação de miséria, ou seja 44 mil pessoas. Em atividades ligadas ao tráfico diretamente, não existem mais do que 200 pessoas que controlam a venda de drogas no local, ou seja, menos de 0,23% dos miseráveis e menos de 0,05 da população total se dedicam ao crime. Se o meio é responsável pela decisão (ou falta de de opção) do indivíduo entrar no mundo da criminalidade, fica a dúvida:

"Por que existe uma população de 99, 95% local que trabalha, paga impostos e sofre com a violência da mesma maneira que os outros?" Se todos vivem no mesmo, meio por que não temos pelo menos 50% de bandidos numa favela?

Os argumentos sociológicos são belos, mas esbarram em números e me dão cada dia menos certeza... Eu queria ter certezas...

Há que se oferecer oportunidades a todos, mas, enquanto isso não vem, não adianta ficar buscando explicações para o que não se resume a tão pouco.